Entre e fique a vontade!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

1764


1764, Paris
Céu cizento.
Pessoas frias.
Muito fria.
Muito frio.
19 anos.
Eu, senhorita Francisca Margarida,
Luto contra o frio.
Quero aquecer meu corpo,
Mas o prazer distante não deixa.
Não deixa!
Não deixa?
Deus não deixa.
Basia, beijo de amor,
Não posso.
Suavia, beijo de paixão,
Não posso.
Então!
O que eu posso?
É o amor domesticado,
Assexuado.
Um coito ordenado para reprodução,
É isso?
20 anos.
Tenho o prazer desonesto,
Que pertence ao meu corpo honesto,
E o que eu digo, ao Deus que me diz não?
1769, repito.
24 anos.
Nunca dexei de me aquecer...
tenho 40 anos.

texto de MADAME IVETE.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Artista


Artista
Em um canto nobre
Acomodei meus traços.
Que seriam munidos com pincéis,
Feito tela, ou recitais
De menestréis.
Deve ser das formas,
Caladas no branco papel,
Ou da fina arte do corpo
Quando um beijo o invade
E sela o destino.

Suspirava visões de um pertencer mútuo. Beijava-o como fosse o último. Acontecia ali, naquele encontro, um interesse sórdido que aumentava e ganhava proporções inexatas, amorfas, como o estranho pintado que cerrava o apartamento e encaixava o inesperado dentro daquele espaço de dois corpos. Um ambiente pouco lúcido para o partilhar comum de duas almas que se chocam uma a outra como forma de se contextualizar no infindável número de mundos a se formar, e que seriam gestados naquele espaço. A fluidez dos contatos corporais amanhecia descaminhos contínuos nos gestos esboçados. Era como se cada movimento habitasse os recônditos da casa (e dos corpos), formando
densas imagens indiferentes ao espaço, mas ensinadas a se entregarem de volta a seus donos, a seus golpes de origem. Cores demais, imagens passivas e corpos ativos, a
postos, prontos para ensinar-se na diferença abstinente. Sem festas e cerimônias, rituais  habituais. Uma sobriedade inexplicável pendia para a janela, ali do alto. Enquanto dentro da casa, os sinuosos frêmitos decidiam as próximas sensações e se prostravam diante do contato carnal, próximo à divinização das almas presentes e tocadas. Tragavam-se fumaças de híbridos que contornavam cada linha e se despojavam de si mesmos para se entregarem, assim, nus, um ao outro. Desconheciam-se os exageros. Abriam-se os poros de cada um para implementar cores do outro, e se pintavam a seu modo. O encontro dos lábios, o peso dos corpos, a textura dos cabelos, as palavras mais ardentes, sensações intensas de dois corpos juntos. Procurou cada parte daquele corpo arrepiado, por um frêmito que parecia ser magnético, deixou-se ser procurado, fez-se caminho. O desejo selvagem, o ardor dos encontros, de misturar o sangue e o resvalar fechado das feridas. Os gestos e caretas, os impulsos, as posições, as mordidas, os olhares e a ampla comunicação sem palavras. O sonho que não conta passos, os passos que só querem ser levados a um único ponto. O vai e vem conjugado de dois corpos, o desvendar da escultura por meio do tato, como se fosse decorar cada canto, cada traço, cada marca. Anoiteciam dormências latentes e abriam-se duas chamas alquímicas que se transmutavam constantemente um no outro, se fundiam e se tocavam completamente, sem pudor, sem críticas nem timidez.

Escritor: Matheus Rocha, 18 anos, mora em Pernambuco, mantém o blog www.infinitoimpaciente.blogspot.com . Lança um livro de contos em meados de 2012.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Madame Ivete

Nativa da América Tropical, ardente como as mulheres de Nelson Rodrigues, travessa como as de Jorge Amado e amada como as de Vinícius, é  assim que sou.
 Faço da minha cama o meu quadro, onde retrato o arrepio da minha pele enquanto é acariciada e desejada por aqueles que querem o amor proibido, sincero, mentiroso, casual, ardente, vermelho, amoroso, menos permanente e por aqueles que querem encontrar em meus braços picantes a poesia de seus desejos mais fálicos.
Amores ardentes são os que mais gosto, sem esperar a próxima vez, como se aquele momento fosse o único, esperado pelas curvas do meu corpo, com o frio de prazer que sinto em meu ventre e com a ardência dos seus beijos na minha pele.
É assim que sou: versos, votos de amor e nomes feios.

Soneto da devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.


Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.


Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.


Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

(Vinícius de Moraes)

Sou Madame Ivete,
muito prazer!

Descobrindo o prazer.


Era meu vizinho, velho tarado dizia minha mãe, mas eu adorava o jeito que se abaixava pra tentar ver debaixo de minha saia, eu ficava vaidosa cada vez que  sentia chamar atenção dos homens. Seu Antônio vivia sozinho, quer dizer, vez por outra entravam e saiam mulheres e minha mãe repetia “velho tarado”.

No dia do meu aniversário de 18 anos, tive uma festa, o pessoal da igreja, ganhei até presente. Estava muito quente, eu queria era me livrar daquele fogo medonho que me invadia. Quando este fogo me possuía ficava louca suando, minha vó sempre me dizia : quando casar passa.

4 da tarde eu passava sozinha e escutei um psisu discreto, era ele, o velho, pra mim não era tarado e sim o velho senhor que dançava os olhos em minha bunda.

Me aproximei e ele me disse que estava bonita com aquele vestido amarelo, parece um jardim de margaridas, estremeci, pois seus olhos não saia de meus seios. Me convidou pra entrar, disse que me daria um presente, que 18 anos é data importante, entrei e vi uma enorme estante de livros, disse que eram seus amigos, eu vermelha disse que também gostava de ler, que adorava os livros, que li casamento à meia-noite da série Júlia, e que minha coleção era enorme.

Tirou um da estante e me pediu pra lê:  

Apalpo, acaricio a flora negra,
e negra continua, nesse branco
total do tempo extinto
em que eu, pastor felante, apascentava
caracóis perfumados, anéis negros,
cobrinhas passionais, junto do espelho
que com elas rimava, num clarão.

As palavras tocaram meu corpo, um delírio tomou conta de mim e um tremor subiu pelas minhas pernas, seu Antônio não se moveu do sofá, mas eu subi até o céu e flutuei , segundos depois, me invadiu uma alegria e um gélido vento tocou meu cabelo, disse que era tarde e tinha que ir,me sentia exausta, o velho sorriu e perguntou: gostou do livro? Eu nem consegui responder, sai correndo e desse dia em diante, eu nunca mais deixei de ter prazer, a  cada vez que leio Drummond.

Assim me apresento, EU NUNCA FUI SANTA e adoro dizer isto, sinto prazer em ter o prazer de tê-los aqui, sejam bem vindos, aqui também é minha morada.

Um beijo
Nunca fui Santa!

Dona Flor

Antes que você pergunte: “Não, eu não tenho dois maridos...
Tenho vários homens, mas, que por ironia do destino, carma ou azar mesmo, geralmente têm outra mulher. Namorada, mulher, rolo, ex, enfim... Tento correr, mas eles me perseguem. 
Geralmente são relacionamentos que  não duram mais que alguns encontros, aquele tipo de relação sem futuro, odeio entrar no meio de histórias alheias, prefiro ser o começo, o meio e o fim, gosto de intensidade, aliás, adoro intensidade!
Não vou negar que gosto de ser a única, quem não gosta?
A mais importante, a única, aquela! 
É melhor que eu tenha dois maridos, do que ele duas mulheres.
Mas mesmo quando eles são livres e desimpedidos acontece da mesma forma, apenas alguns encontros e só, não tem valido a pena esperar algo mais.
Então me aventuro por aí de “galho em galho”, de déu em déu, tentando descobrir onde melhor vai dar a minha flor! Uma flor errante, mas que se diverte bastante!
Essa sou eu!
Não devo reclamar, eu não preciso procurar os homens, eles sempre aparecem, mesmo naqueles dias ou noites em que estou menos a fim, quando eu acho que nada mais acontecerá, quando não espero mais nada, mas não se deve negar quando o prazer bate a sua porta. Nunca sabemos se aquele “galho” vai vingar.
Já conheci homens maravilhosos, pessoas lindas, outros que como dizem os mais velhos: não valem o que o gato enterra, alguns que nem mereciam um minuto sequer da minha doce e perfumada companhia, mas confesso que muito aprendi, e muito aproveitei.
Limite, esse é meu único problema, sempre quero mais, não sei a hora de parar, sou assim com tudo!
E mais, falo demais! Quanto mais falo, mais quero!

Muito prazer, eu sou Dona Flor!

domingo, 14 de agosto de 2011

ErOtismo e poética


O chão é cama 
O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente 
compõe de corpo e corpo a úmida trama.
(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

 

Proposta indecente


Nossa proposta para é você é simples: queremos te dar prazer! A leitura é uma prazer único e inenarrável, assim uniremos o útil ao agradável.
Alguns personagens serão apresentados a vós, aos poucos, cada um a seu tempo, cada um com suas características.
Os textos são feitos para cada um dos personagens, para você leitor(a), para quem se identificar nas histórias e nas palavras escritas aqui.
Sejam todos bem-vindos, na Casa de Gabriela sempre cabe mais um ou mais uma, as portas estão sempre abertas.

Muito prazer.